Engenharia Civil um curso/profissão com potencial e futuro

A Engenharia Civil como um todo, tem o seu valor associado ao valor do mercado nacional da construção civil. Nos períodos em que o investimento na construção sobe, todas as atividades associadas ao sector, crescem e prosperam, resultando com impacto direto na riqueza que é produzida no país, lida através do PIB. É uma atividade de ciclos. Fases de crescimento associadas à disponibilidade financeira do Estado e das entidades privadas para investir na construção, a que se seguem fases de corte no investimento e o definhamento do sector. Antes da crise de 2008, todo o sector estava dependente do valor e da forma como funcionava o mercado nacional. Raras eram as empresas a aventurar-se fora do país. A frieza e crueldade da crise de 2008, levou a que muitas empresas tivessem de ir pela primeira vez para o estrangeiro, para sobreviverem. Empresas e quadros mal preparados logisticamente para esta realidade, mas que tinham do seu lado a qualidade inegável do conhecimento técnico que fez na maior parte dos casos pender a balança para o sucesso da investida. Um pequeno pormenor que possibilitou a muitos fazer o mesmo trabalho ou melhor que outra empresas do chamado primeiro mundo, cobrando valores bastante inferiores. Apesar deste enquadramento, a lança do estrageiro e o custo associado para as empresas foi feito à custa do emagrecimento dos seus quadros, ora largando no desemprego profissionais de mão cheia, ora perdendo outros, que por livre iniciativa emigraram na procura de melhores condições de trabalho no estrangeiro.

Com as empresas no limite do esforço financeiro para sobreviverem internamente e no estrangeiro, as condições no sector pioraram, tendo por exemplo os cursos de engenharia civil em todas as universidades, perdido alunos em número e qualidade, facilmente ilustrado pela forma como a média nas universidades baixou.

Apesar de termos assistido a uma melhoria apartir do ano de 2015, graças ao forte investimento privado estrangeiro, o sector voltou-se de novo para dentro e o volume de negócios no sector melhorou. Melhorou em particular ao nível do investidor imobiliário e no subempreiteiro, mas infelizmente um pouco menos nas construtoras (responsáveis de empreitadas gerais) e nos prestadores de serviços de engenharia como os projetistas.

Perdemos muitos dos bons encarregados gerais, medidores, orçamentistas e as entidades que formavam estas profissões ou desapareceram ou perderam o seu público. Na realidade trabalhar em obra é difícil, exige resiliência e um certo espírito de sacrifício, que comparado com outras atividades é pouco cativante.

Muitas destas profissões antes preenchidas por pessoas formadas em cursos profissionais, são hoje preenchidas por engenheiros civis ou arquitectos. Não que isto seja um trabalho menor, mas é uma realidade diferente.

Nestes últimos anos o mundo mudou. A juventude é hoje diferente da juventude de há 20 anos. Melhor num sentido, pior em outros. Diferente, portanto.

As novas tecnologias modificaram a nossa juventude. A ideia de cada um pode fazer o seu próprio negócio, ou trabalhar do outro lado do mundo tendo acesso apenas a um ponto de rede vende fácil.

Também a forma como se comunica é diferente. E mais importante quem não comunica, não existe.

Julgo que são estes alguns dos motivos que tem levado os jovens a afastar-se da vontade de serem engenheiros civis. É muito mais giro ser engenheiro informático. Fazer programas, jogos, scripts para uma qualquer empresa no mundo, sem horários, sem obrigações que não sejam entregar algo ao fim de algum tempo.

Quando me tornei Engenheiro Civil fi-lo pela curiosidade de perceber como as estruturas funcionavam, como é que era possível construi-se “isto”, ou equilibrar “aquilo”. Quando a esta curiosidade se junta o gosto pela matemática e ela física, julgo que somos candidatos a sermos engenheiros civis, mecânicos, ou algo semelhante. Ainda hoje considero fascinante conceber uma estrutura e se o desafio for difícil, mais aliciante se torna.

A ideia de criar algo palpável sempre foi atrativo e sempre será. No entanto, temos de comunicar esta ideia de outra forma. Hoje em dia o que é verdade não é o que vemos na rua. A verdade está nos “instagrams”, nos “tiktoks”, nos “discords”, nas moedas virtuais, em suma na tecnologia. As websummits vendem como nunca, o empreendedorismo tecnológico vende, o sonho de criar uma startup, vende.

Tudo o resto ganha um rótulo de acessório e é pouco atrativo.

Atividades como engenheiro civil são pouco atrativas. Resultado, temos cada vez menos jovens a escolher engenharia civil, cada vez menos engenheiros civis a serem formados e mesmo quando se formam, idealizam a forma de migrarem para outra atividade, menos exigente, ou mais lucrativa.

Hoje tive o prazer de ser convidado para uma atividade no IST e no fim falar com um grupo de alunos. E o que ouvi foi, “o mercado nacional é pouco atrativo”; “pagam mal no início e mesmo ao fim de alguns anos não vejo ninguém a evoluir”, “os meus colegas mais velhos vão fazer estágios a empresas de projeto e não sentem que a empresa se preocupa com eles com dedicação e horas de investimento em passar conhecimento”; “só vejo futuro emigrando e ir trabalhar para locais do globo onde a profissão é bem remunerada”.

Enfim, um rol de lamurias que não sendo novidade, tiveram em mim maior impacto por ser ouvidas diretamente.

As empresas esqueceram-se de formar. Todas oferecem algo como “procura-se engenheiro elegível para apoio IEFP, com ordenado bruto de 1000€”. E depois quando os jovens começam a trabalhar são mais um na máquina de “encher chouriços”.

Estamos a dar cabo do mercado e a matar futuros profissionais da engenharia civil. 

Temos então aqui vários problemas identificados:

      • Os jovens não consideram a engenharia civil atrativa.
      • A profissão tem pouco reconhecimento.
      • Dificuldade em identificar empresas que sejam uma mais-valia no crescimento como engenheiro civil.
      • A profissão é mal remunerada.

Temos de inverter este cenário, ou não teremos quem contratar nos próximos anos.

Temos de mostrar aos jovens que a engenharia civil tem um enorme potencial, quer para exercer algo diretamente relacionado com o setor da construção, quer para servir de curso base para um futuro numa outra área. Temos de ir às escolas secundárias e cativar os melhores alunos quando estes ainda andam perdidos sem saber o que querem ser no futuro. Aqui a Ordem dos Engenheiros e as universidades têm um papel fundamental. A Ordem tem de profissionalizar a forma como comunica e ser um centro catalisador em conjunto com as universidades de todo o país na divulgação daquele que é o seu curso com mais membros pagantes. Tragam os grandes nomes da engenharia em Portugal e promovam eventos por esse país fora.

As grandes empresas de construção podem criar bolsas de estudo para os melhores alunos e quase formar o seu engenheiro desde o momento zero. Existem vários bons exemplos de empresas com esta boa prática. Conseguem desta forma formar profissionais à sua medida e obter publicidade positiva nas comunidades estudantis.

A empresa tem de ser centros de conhecimento. Onde se investiga, onde se forma, onde se cultiva o conhecimento. Os jovens têm de perceber facilmente no mercado as empresas que tem estas condições.

As universidades têm de se relacionar mais com as empresas. Vejo isso a acontecer muito com os cursos da moda, e por exemplo o curso de engenharia civil a ficar para trás.

As universidades têm de promover e dar condições às associações de estudantes de engenharia civil. Os poucos grupos que existem funcionam por carolice, são pouco apoiados. Hoje conheci a sede do Fórum Civil no IST e as condições são piores do que as que existiam há 23 anos quando sai do técnico. Aqueles miúdos precisam de mais apoio, porque tem ideias e potencial para fazer mais e de forma diferenciadora.

A Ordem dos Engenheiros tem de regulamentar ou fazer lobby político para que as empresas que não cumpram um certo padrão de qualidade sejam penalizadas na liberdade de fazer projeto. A Engenharia Civil tem de ser balizada por cima e não pelo cumprimento do requisito mínimo, porque o projeto também foi ganho por um valor mínimo.

Não pode haver o facilitismo de um freelancer utilizar programas pirateados e concorrer com honorários com empresas que investem milhares no mercado. Quem contrata um projeto de engenharia, deve contratar um selo de qualidade de boas práticas de engenharia e de entidade que contribui para a melhoria do sector.

O mercado habituou-se a adjudicar ao mais barato. O próprio estado promove este comportamento nos seus concursos públicos. O Estado tem de alterar este comportamento e desenvolver cadernos de encargos com qualidade e a Ordem dos Engenheiros tem de fazer lobby para que este comportamento seja invertido em prol da qualidade dos projetos. Melhores empresas de engenharia terão condições para pagar melhores salários e para reter conhecimento.

Hoje a realidade da Engenharia Civil, seja na área de projeto, construção ou manutenção e exploração é o uso de ferramentas BIM. A modelação tridimensional, a capacidade de agregar informação e a capacidade de extrapolar os modos de visualização destes modelos é algo grandioso e que tem potencial para cativar os mais jovens. Esta realidade, é, porém, mais dispendiosa para o valor que o mercado nacional está disponível a pagar. Claramente o mercado tem de valorizar e de pagar mais, assim como os programas deveriam ser mais acessíveis para as empresas nacionais. É dificilmente justificável que as licenças do mesmo programa sejam mais baratas em França (onde a atividade de projeto até é melhor paga), do que em Portugal. Ou ainda pior, que caso as licenças sejam compradas em França, não possam ser usadas em Portugal. Dois países que partilham o mesmo mercado europeu, em teoria sem fronteiras.

Há muito para fazer pela nossa atividade, porque ao fim de 23 anos continuo com a certeza de que esta é uma profissão inigualável. Ser engenheiro civil é e quero que continue a ser um motivo de orgulho.

A 360 Engineering irá contribuir com toda a certeza para este futuro mais sorridente da engenharia civil e deixo algumas das diretivas que temos muito claras no nosso pensamento de futuro.

      • Queremos ser reconhecidos como uma escola de saber fazer. Aqui um jovem engenheiro encontrará oportunidade para crescer e um espaço para se discutir engenharia.
      • Queremos criar valor. As soluções estruturais são concebidas para terem um bom desempenho na fase de construção e ao longo da vida da estrutura.
      • Promover a sustentabilidade. Desenvolvemos soluções com o mínimo consumo de materiais e com a capacidade de definir soluções, metodologias de construção e usos de materiais mais sustentáveis.
      • Não somos uma empresa de enriquecimento dos sócios. Promovemos que na mesma proporção que o esforço de todos os nossos colaboradores contribuem para o nosso sucesso, também nós temos a obrigação moral de recompensar o esforço;
      • Apesar de termos internamente momentos de formação continua, não definimos planos de formação para os nossos colaboradores. Estes têm, no entanto, oportunidade de ao investirem numa determinada área serem por nós ajudados na obtenção de maior conhecimento, com a participação em cursos externos que proponham e mostrem ser benéficos para o futuro.
      • Promover o acompanhamento das obras em que os nossos colaboradores participaram ativamente ou que tenham aspetos interessantes a observar em obra.

Podemos perder colaboradores em que investimos, mas sabemos que cada colaborador que fique contribui para a riqueza comum da empresa e cada colaborador que saia será sempre um porta-estandarte na nossa instituição.

Valorizemos a profissão e o exercício da mesma e seremos valorizados pela sociedade e pelos futuros engenheiros.